As raízes da mudança climática são multifacetadas e interseccionais. Trata-se da extração de recursos num ritmo que excede os limites naturais dos sistemas da Terra, realizada por meio de economias coloniais que oferecem lucros para poucos às custas de muitos. Soluções reais devem ser moldadas para enfrentar os fatores sistêmicos profundos que impulsionam a mudança climática. Ademais, deve-se demonstrar que verdadeiramente funcionam por meio da prática com princípios. Para termos um futuro com justiça climática, precisamos ir além de metas de carbono (sejam elas partes por milhão ou porcentagens de emissões), porque tais metas reforçam um paradigma carbono-reducionista. Tal paradigma emergiu do discurso científico eurocêntrico e de marcos baseados no mercado que evitam enfrentar as raízes causais da mudança climática.
As raízes da mudança climática são multifacetadas e interseccionais. Trata-se da extração de recursos num ritmo que excede os limites naturais dos sistemas da Terra, realizada por meio de economias coloniais que oferecem lucros para poucos às custas de muitos. Soluções reais devem ser moldadas para enfrentar os fatores sistêmicos profundos que impulsionam a mudança climática. Ademais, deve-se demonstrar que verdadeiramente funcionam por meio da prática com princípios. Para termos um futuro com justiça climática, precisamos ir além de metas de carbono (sejam elas partes por milhão ou porcentagens de emissões), porque tais metas reforçam um paradigma carbono-reducionista. Tal paradigma emergiu do discurso científico eurocêntrico e de marcos baseados no mercado que evitam enfrentar as raízes causais da mudança climática.
Enfrentar as raízes causais requer que se trabalhe com a diversidade de necessidades específicas de cada lugar e com os recursos disponíveis, em vez de buscar soluções centralizadas que supostamente servem para tudo. Examinar as raízes causais nos permite entender como a redução do carbono precisa ser combinada com esforços para eliminar a poluição tóxica, a destruição cultural e da biodiversidade, o roubo e colonização de terras, a militarização e os governos autoritários, a pobreza racializada e de gênero, e a violência. Enfrentar as raízes causais requer que primeiro aprofundemos a escala – priorizando iniciativas lideradas e projetadas em âmbito local – para depois alargar a escala – para facilitar a formação de redes translocais de colibertação – e somente por último aumentar a escala de um modo verdadeiramente democrático e impactante.
Soluções reais para a mudança climática precisam:
Ser guiadas pela prática com princípios
Ser guiadas pelo Saber Tradicional Indígena, por experiências baseadas em cada lugar e pela ciência feita no interesse público
Ser holísticas no enfrentamento de todo dano ecológico e social entrelaçado
Substituir as economias da ganância por economias a serviço das necessidades ecológicas e humanas
Fazer avançar a democracia profunda, direta e participativa, enraizada na autodeterminação local
Centrar na liderança e necessidades daqueles mais prejudicados, no presente e historicamente
- Soluções reais precisam ser guiadas pela prática com princípios.
Soluções reais precisam ser guiadas por princípios tais como justiça ambiental (JA),115 transição justa,116 organização democrática e democracia energética,117,118 que foram articulados e aprovados por movimentos ambientais de base por todo o mundo. Ao fornecer diretrizes interseccionais para mudanças transformadoras, esses princípios nos ajudam a determinar caminhos “justos” tanto para “descarbonizar a economia” quanto para reduzir outras formas de dano ambiental que historicamente têm sobrecarregado comunidades oprimidas de modo desproporcional. Esses princípios ajudam a orientar estratégias e soluções referentes ao clima que rompem as barreiras criadas pela cultura de supremacia branca, pensamento reducionista e ideologias neoliberais que nos levaram para o mau caminho. Além desses princípios relacionados ao movimento, soluções climáticas críveis devem aderir ao princípio da precaução,119 antes de qualquer teste de campo e aplicação. Embora os lobistas empresariais costumem criticar o princípio da precaução por ser um “obstáculo ao progresso”, esta diretriz baseada na ciência deve ser aplicada a todas as inovações, tecnologias e práticas não calcadas no Saber Tradicional Indígena e na experiência ecológica local.
Exemplos:
Um valor central que trespassa esses conjuntos de princípios é o “nada sobre nós, sem nós”, ou seja, centrar as vozes, necessidades e liderança daqueles mais direta e severamente impactados.120 Os princípios da Pesquisa–Ação Participante (PAP) foram desenvolvidos por movimentos e seus aliados acadêmicos pelo mundo afora,121 com seus conjuntos próprios de princípios para guiar a pesquisa e estudo de soluções apropriadas para o âmbito local centradas nas vozes dos prejudicados.
Um exemplo antigo de PAP são os Colégios dos Pés Descalços nascidos da luta do Sul da Ásia contra o governo colonial britânico. A crença era que aqueles mais oprimidos historicamente precisavam ser apoiados com instituições de estudo e pesquisa adaptadas a seus saberes tradicionais e que centrassem seus direitos à autodeterminação coletiva. Após 50 anos de experimentação na Índia, o modelo do colégio de pés descalços se espalhou para mais de 1300 vilarejos em mais de 17 países da Ásia, África e América Latina.122
Esses princípios ajudam a orientar estratégias e soluções referentes ao clima que rompem as barreiras criadas pela cultura de supremacia branca, pensamento reducionista e ideologias neoliberais que nos levaram para o mau caminho
- Soluções reais precisam ser guiadas pelo Saber Tradicional Indígena, por experiências baseadas em cada lugar e pela ciência feita no interesse público.
Para poder olhar para o futuro e ver quais soluções são as mais benéficas, as menos danosas, as mais duráveis e equitativas, nós precisamos contar com o conhecimento histórico das mais antigas memórias vivas da humanidade sobre como viver em harmonia, equilíbrio e reciprocidade com a Terra e toda a sua prole. Centrar o Saber Tradicional Indígena, com sua sabedoria e valores locais permite que tenhamos a mais clara linha de visão para enfrentar as tempestades, enchentes, incêndios, secas e doenças que vêm em nossa direção.123 Observando que em muitas partes do mundo o domínio colonial tentou exterminar os Povos Indígenas e seus sistemas de conhecimento, às vezes pode ser que precisemos olhar para culturas de colonos e migrantes que tenham cultivado práticas de subsistência enraizadas na ecologia local. A partir destas, poderíamos aprender a construir economias regenerativas vivas, voltadas à cura, restauração e revitalização de nossas relações com todas as formas de vida. Além da sabedoria baseada em cada lugar, de Povos Indígenas ou não, soluções reais devem ser guiadas por pesquisa e ciência críveis e feitas no interesse público, ou seja, ciência que tenha uma forte supervisão pública e financiamento público (não influenciada pelo dinheiro empresarial). Por fim, de modo a estarem alinhados com uma transição justa, todos os estados coloniais precisam buscar a aprovação da liderança, governança territorial e sabedoria dos Povos Indígenas para todas as estratégias climáticas. E onde o Consentimento Livre, Prévio e Informado (CLPI) for aplicado como marco para obter tal aprovação, todos os protocolos e processos de CLPI devem ser determinados pela liderança de cada Nação Indígena.
Exemplos:
Para os Povos Indígenas e camponeses, a agroecologia e a soberania alimentar são estratégias chaves para reduzir emissões e realizar a justiça social.124 A Soberania Alimentar Indígena é um marco holístico que enxerga além do dano causado pela agricultura industrial, produtivista e mercantilizada, bem como das limitações da agricultura de assentamento colonial. Ela apóia práticas regenerativas de pesca, caça, coleta e agricultura enraizadas no Saber Tradicional Indígena, de forma a atender necessidades essenciais alimentares, médicas e culturais, ao mesmo tempo protegendo e restabelecendo os ecossistemas que as fornecem.125
Práticas Indígenas de uso do solo são cruciais para restaurar o equilíbrio entre o carbono atmosférico e biótico, seja para reverter a desertificação causada pelo homem126 ou recuperar ecossistemas aquáticos e a fauna.127, 128, 129 E na medida em que os órgãos internacionais de resposta a desastres continuam a fracassar no intuito de lidar com a crescente escala e intensidade do caos climático, há um reconhecimento se avolumando de que precisamos do Saber Tradicional Indígena para combater os incêndios, as enchentes e as secas eficazmente.130
- Soluções reais precisam ser holísticas no enfrentamento de todo dano ecológico e social entrelaçado.
Todos os esforços para reduzir emissões de gases do efeito estufa devem ser combinadas com estratégias para reduzir os co-poluentes tóxicos, os resíduos e a destruição da biodiversidade, bem como os fardos desproporcionais de poluição e pobreza carregados por comunidades Negras, Pardas, Indígenas, migrantes e pobres ao redor do mundo. Soluções reais devem: ser guiadas por nossas relações recíprocas com todas as formas de vida; ser alinhadas com a restauração dos ecossistemas e espécies impactados pela economia extrativa global; restabelecer a saúde de todas as espécies de cujo bem estar dependemos para o nosso bem estar.
A crise climática não pode ser enfrentada sem que se avalie os esforços de “decarbonização” com base em sua capacidade de desintoxicar, desmercantilizar, desgentrificar, desmilitarizar, descentralizar, descolonizar e democratizar as nossas economias. Tal abordagem integrada garante que a redução de danos em um aspecto de qualquer processo não exacerbe os fardos em outro. Assim sendo, as soluções reais precisam ser holísticas ao examinar os ciclos de vida do carbono num contexto mais amplo de todos os danos associados, i.e., a proliferação de plásticos em nossos oceanos, o esgotamento da fertilidade dos solos, a alta taxa de mortalidade por COVID-19 entre comunidades de JA devido aos fardos desproporcionais de poluição industrial que carregam etc.
Exemplos:
Lixo Zero: Na natureza não existe lixo. Logo, esforços para criar sistemas de lixo zero para reduzir, reutilizar, reciclar e compostar o lixo em nossas cidades aliviariam a pegada humana de várias maneiras – desde reduzir significativamente as cargas de poluição climática e tóxica, até a relocalização da economia dos materiais –, ao mesmo tempo criando milhões de novos empregos e caminhos rumo à transição justa para comunidades mais pobres.131 Estratégias de lixo zero, que evitam que o lixo seja queimado ou enterrado, são um dos jeitos mais acessíveis para que cidades e comunidades façam a transição para economias locais, controladas pela comunidade.132
Transporte Público: A fonte global de emissões de gases do efeito estufa que cresce mais rapidamente é aquela oriunda do setor de transportes, e mais de 72% dessas emissões vêm do transporte rodoviário.133 Ao relocalizar o transporte e realocar os subsídios dados a combustíveis fósseis para servir a necessidades humanas essenciais, como habitação e saúde, muito empregos mais poderiam ser gerados com bem menos poluição que no status quo. Exemplos inovadores de soluções de transporte incluem o projeto de cidades “caminháveis”,134 como o distrito de Vauban em Freiburg, na Alemanha,135 e as campanhas de organização comunitária da União de Passageiros de Ônibus de Los Angeles, do Strategy Center e seus aliados. Essa aliança almeja empurrar a Agência de Transporte de Massa de Los Angeles (MTA – LA Mass Transit Authority) na direção de metas interseccionais de transporte, tais como Transporte Público Gratuito, Nenhum Policial nos Ônibus e Trens da MTA, Fim aos Ataques da MTA a Passageiros Negros, Nenhum Policial nas Escolas Públicas de Los Angeles, e Nenhum Carro em Los Angeles.136
Com relação às centenas de bilhões em subsídios atualmente dados ao setor de petróleo e gás, precisamos abordar os trilhões gastos na indústria da guerra. Embora existam poucos exemplos de esforços para desmilitarizar a economia extrativa global, campanhas como About Face – Veteranos Contra a Guerra propõem que mudar o propósito das vidas de centenas de milhares de jovens, deixando de servir empresas de combustíveis fósseis para servir necessidades humanitárias, ajudaria tanto a salvar vidas quanto a reduzir maciçamente a quantidade de carbono atmosférico.137
- Soluções reais precisam substituir as economias da ganância por economias a serviço das necessidades ecológicas e humanas.
Para serem eficazes, soluções reais precisam fazer parte de um seguimento de estratégias de transição justa que nos façam aproximar-nos de economias locais e regenerativas, orientadas pelo cuidado, pela partilha, a solidariedade e a ajuda mútua.138, 139 Existem milhares de experiências ativas pelo mundo, oferecendo lições emergentes a partir de esforços para construir uma economia solidária e feminista, de bancos de horas e assistência translocal comunitária com investimentos, a federações de cooperativas de propriedade dos trabalhadores, como a Mondragon na região basca da Espanha.140
Frequentemente, os melhores lugares para encontrar tais análises holísticas são as interseções das lutas mais antigas, entre algumas das comunidades mais pobres e marginalizadas. Lá, as pessoas continuam a lutar contra a pobreza racializada, as guerras por recursos e a migração forçada, bem como a resistir furacões, incêndios florestais e doenças. Essas interseções são onde a “experiência vivida” guia as estratégias mais sofisticadas para desmontar múltiplas facetas do domínio colonial, com comunidades e trabalhadores projetando e construindo novos sistemas moldados a suas necessidades.
Exemplos:
Tierra Y Libertad – Uma cooperativa Indígena agrária no estado de Washington (EUA) encarna a visão de organizar uma economia solidária que serve para lançar outros projetos cooperativos liderados por famílias Indígenas e de trabalhadores agrícolas migrantes, criando caminhos de resiliência rumo ao direito à terra, justiça para o migrante, alimentos saudáveis, restauração de ecossistemas e cooperativas de trabalhadores. Assim, rompem-se as cadeias entrelaçadas de exploração do trabalho, imperialismo fronteiriço, supremacia branca e racismo ambiental.141
Um dos maiores complexos de horticultura urbana dos Estados Unidos foi organizado por comunidades negras de classe trabalhadora nas linhas de frente da insegurança alimentar, colapso econômico e racismo ambiental. A Rede Negra Comunitária de Segurança Alimentar de Detroit serve como espaço onde diversos coletivos e cooperativas comunitárias de alimentação e agricultura se congregam para cultivar uma visão transformadora de mudança e capacitar as gerações futuras a organizá-la.142
Há muitas décadas, as mulheres têm cultivado práticas comunitárias de cura e justiça transformadora na linha de frente, longe da polícia, das prisões e de outras instituições violentas, e rumo a sistemas de cuidado, partilha e cura.
- Soluções reais precisam fazer avançar a democracia profunda, direta e participativa, enraizada na autodeterminação local.
Soluções reais precisam ser definidas democraticamente e governadas em âmbito local, envolvendo a liderança coletiva de comunidades e trabalhadores historicamente entre os mais prejudicados e impactados pela economia extrativa.
Embora as políticas neoliberais se baseiem na premissa ideológica de que as mega-empresas trabalham pelos melhores interesses das pessoas e do meio ambiente, elas na realidade são como máquinas que sempre serão guiadas pela obtenção do lucro. Quaisquer soluções reais precisam estar alinhadas com: a redução do poder e influência das mega-empresas; a eliminação de sua influência sobre arenas políticas neoliberais que promovem falsas soluções; a priorização da visão democrática local e das necessidades essenciais de todos os povos; e a devolução do que é devido àqueles historicamente mais prejudicados. O longo do tempo, nós precisamos construir mais modelos democráticos de governança que substituam as concentrações atuais de riqueza e influência empresarial por ferramentas que aprofundem a democracia, como a formulação participativa de orçamentos e políticas públicas.143
Assim como a energia de propriedade comunitária, o lixo zero e a agricultura apoiada pela comunidade,144, 145 existem muitos modelos para a relocalização econômica que se alinham com o aprofundamento e ampliação da governança democrática e a autodeterminação comunitária.
Exemplos:
O movimento estudantil Girassol, de Taiwan, liderou uma manifestação maciça em 2014, que ocupou o parlamento do país para evitar que o governo assinasse um novo acordo comercial com a China. Para ativar a democracia direta, os estudantes desenvolveram uma plataforma online que passou a se relacionar com a opinião popular nas ruas e construiu um consenso massivo entre o povo que moldou o acordo comercial e de serviços em questão. Essa exitosa iniciativa de base levou a deliberações públicas adicionais que ajudaram a dar forma à política de energia nuclear de Taiwan e a uma reforma constitucional.146
Nos Estados Unidos, grupos comunitários de justiça ambiental têm se organizado para forçar seus governos locais a se distanciar dos monopólios de grandes empresas concessionárias e se aproximar de geradoras de energia renovável de propriedade da comunidade e administradas cooperativamente, como o Sunset Park Solar em Brooklyn, Nova York (EUA).147
- Soluções reais precisam centrar na liderança e necessidades daqueles mais prejudicados, no presente e historicamente
Às comunidades que continuam a ser prejudicadas primeiramente e mais, tanto pela mudança climática quanto pelos sistemas econômicos que causam a mudança climática, é devida uma dívida histórica por aqueles cuja riqueza crescente continua a causar o dano. O genocídio de Povos Indígenas, o tráfico transatlântico de escravizados, o feminicídio de líderes mulheres por religiões patriarcais e o roubo globalizado de terras, trabalho e vidas pelos impérios coloniais resultaram nas disparidades de riqueza gigantescas que existem pelo mundo afora hoje em dia. Esse dano histórico também serviu diretamente para criar os sistemas econômicos que impulsionam a mudança climática. A nossa capacidade de enfrentar o caos climático dependerá de quão bem possamos reparar tal dano e redistribuir os recursos roubados às comunidades que estão nas linhas de frente desta crise.
Felizmente, essas comunidades frequentemente são as mais bem equipadas para oferecer liderança, e têm cultivado soluções reais ao:
- Investir em organização de base na linha de frente, assim construindo nosso poder, melhorando condições em nossas comunidades e impedindo que empresas causem perturbações em nossos territórios;
- Priorizar a ação localizada para construir comunidades resilientes, alternativas econômicas e a infraestrutura de que precisamos para sobreviver às tormentas; e
- Apoiar a solidariedade com movimentos de base de todo o mundo, para vincular lutas e compartilhar políticas, estratégias e recursos translocalmente.148
Esses caminhos estratégicos nos permitem enfrentar os fardos desproporcionais carregados historicamente por comunidades oprimidas em toda parte.
Exemplos:
Um dos melhores caminhos para simultaneamente proteger a biodiversidade, descolonizar nossas economias e mitigar o caos climático seria que os estados coloniais de assentamento devolvessem terras para as Nações Indígenas e comunidades tribais mais bem equipadas para nos liderar no processo de restauro dos ecossistemas naturais e equilíbrio com os elementos que sustentarão nossos filhos nos anos vindouros.149
Um caminho de solução que surgiu com o levante do Movimento por Vidas Negra contra a violência policial e prisional nos Estados Unidos é o #DefundThePolice, ou seja, “desfinanciar a polícia”. Ele significou que agora os orçamentos polpudos das forças de polícia altamente militarizadas estão sendo examinados em dezenas de cidades, para ver de onde podem ser liberados bilhões de dólares em recursos públicos para financiar necessidades comunitárias essenciais, como saúde, moradia e proteção real.150 Embora animados por uma visão de longo prazo de abolição da polícia, algumas campanhas locais têm conseguido dar passos importantes no redirecionamento de recursos. Por exemplo, em Austin, Texas, o dinheiro do corte do orçamento da polícia será usado para converter um hotel para alojar a população sem teto da cidade.151
#Homes4All, ou seja, “lares para todos”, é uma estratégia chave para desfazer a opressão sistêmica e mitigar a mudança climática por meio de avenidas interseccionais. Uma das facetas mais óbvias é que aquecer lares consome muita energia devido ao uso de aquecimento eletromecânico (ativo).152 Exemplos de métodos de aquecimento e refrigeração passivos que fazem uso inteligente do projeto e materiais de uma construção sem usar combustíveis fósseis abundam em muitas sociedades Indígenas e de base territorial,153 como os lares Hogan da Nação Navajo (Dinetah) no Sudoeste dos Estados Unidos,154 ou culturas como a Civilização do Vale do Indo – isso há milênios.155 Assim como acontece com diversas comunidades Indígenas, as terras da Nação Navajo têm sido invadidas pela mineração de carvão, urânio e outras indústrias extrativas. Isso tem deixado a Nação Navajo com deficiências em termos de habitação, água e saúde, expondo o povo desproporcionalmente a impactos relativos a doenças pulmonares, asma, câncer e COVID-19.156
Cada vez mais cresce a consciência de que lidar com a crise da moradia em primeira instância serve como medida preventiva para outras crises relacionadas à pobreza, como a doença mental, a fome e o vício. Na Finlândia, o Programa Moradia Primeiro tem dado o exemplo na redução do déficit habitacional entre países da União Europeia, ao dar moradia permanente aos sem-tetos como o primeiro passo de intervenção.157
Por último, ao buscar centrar a liderança e restaurar a saúde dos mais prejudicados historicamente, precisamos reconhecer que a destruição dos lindos e complexos sistemas biológicos da Mãe Terra está diretamente ligada ao feminicídio, à misoginia e aos sistemas patriarcais de opressão enfrentados ao redor do mundo por mulheres, pessoas de duplo espírito, de gênero não binário e transgêneros. De modo a termos êxito na moldagem de caminhos para as gerações futuras sobreviverem a esta crise ecológica global, precisamos abraçar a liderança de mulheres, pessoas de duplo espírito, de gênero não binário e transgêneros nos vários espaços de nosso movimento.
As mulheres cultivam práticas comunitárias na linha de frente referentes a cura e justiça transformativa há décadas, rumando para sistemas de cuidado, partilha e cura, e deixando para trás a polícias, as prisões e outras instituições de violência. Os Nari Adalats (Círculos de Justiça das Mulheres) da Índia são exemplos excelentes deste movimento, de distanciamento em relação a medidas carcerárias e punitivas para lidar com a violência com base em gênero.158 E a Escola Internacional de Organização Feminista Berta Cáceres é um projeto novo e inspirador que cultiva uma nova liderança para guiar uma transição justa que deixe em seu rastro a destruição da vida, rumo à economia pluralista e feminista.159
Alliance for Food Sovereignty in Africa: afsafrica.org
Global Tapestry of Alternatives: globaltapestryofalternatives.org
La Via Campesina: viacampesina.org
Trade Unions for Energy Democracy: unionsforenergydemocracy.org
World March of Women: marchemondiale.org
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[157] Gray, A. (2018, 13 de fevereiro). Here’s how Finland solved its homelessness problem. World Economic Forum. https://weforum.org/agenda/2018/02/how-finland-solved-homelessness/
[158] Mahila Samakhya Gujarat. (n.d.) The Nari Adalat – Gender justice of the women, for the women, by the women. http://bestpracticesfoundation.org/pdf/PDF3b2-Nari-Adalat-Tool.pdf
[159] Grassroots Global Justice Alliance. (s. d.). The Berta Caceres International Feminist Organizing School. Acessado em 27 de março de 2021, a partir de https://ggjalliance.org/programs/feminist-organizing-schools/