ENGANADOS

NA ESTUFA

TERCEIRA EDIÇÃO 2021 

Contra as falsas soluções
para a mudança climática 

Glossário

Biochar – Carvão vegetal produzido pela pirólise de biomassa. O biochar, composto em grande medida de carbono, é então enterrado no solo. Proponentes alegam que isto sequestra emissões de carbono. Porém, a prática não aborda nem os impactos do desmatamento e colheita de madeira para produzir biomassa, nem as emissões tóxicas do processo de pirólise. 

 Biodiesel – Combustível criado a partir de cultivos em terra, como a soja e o fruto de palmeiras. 

 Bioenergia – Energia produzida a partir da queima de materiais de origem vegetal e animal (ver biomassa e biocombustível). 

 Bioenergia com captura e armazenamento de carbono (BECCS) – BECCS envolve queimar biomassa para obter energia e em seguida capturar as emissões de carbono e injetá-las em reservatórios geológicos. A biomassa necessária para BECCS em grande escala exigiria vastas extensões de terra. 

 Biocombustível – Combustíveis produzidos a partir de biomassa, incluindo etanol de milho e cana, biodiesel de óleo de soja e palmeira, e várias outras matérias primas, têm sido usados amplamente, aumentando a pressão por terras e criando uma ligação desastrosa entre os mercados de commodities alimentícias e energéticas. 

 Biomassa – Materiais que via combustão podem gerar energia, incluindo desde lixo a árvores, restos de madeira de construção e demolição, licor negro (resíduo tóxico de fábricas de papel), gramíneas, resíduos agrícolas e de granjas etc – mas geralmente envolve queimar madeira ou resíduos de serrarias ou papeleiras em usinas geradoras. 

 Captura e armazenamento/sequestro de carbono (CAC) – O dióxido de carbono é coletado em chaminés industriais, comprimido até se tornar líquido e transportado via dutos para um local onde possa ser bombeado para o subsolo, seja em reservatórios de petróleo e gás, aquíferos salinos ou embaixo do oceano. Não há garantia de que o dióxido de carbono permanecerá no subsolo. 

 Captura, utilização e armazenamento de carbono (CCUS) – CCUS é uma tecnologia sem comprovação que usa dióxido de carbono capturado para produzir bens manufaturados. Embora as emissões pudessem ser isoladas temporariamente, elas provavelmente voltariam a ser liberadas no meio ambiente quando os produtos fossem queimados ou se decompusessem. 

 Compensações de carbono – Poluidores, indivíduos e estados podem comprar compensações para supostamente compensar as emissões que produzem. Créditos de compensação são gerados a partir de projetos que alegam dubiamente que reduzem emissões. Está documentado que estes frequentemente prejudicam as comunidades locais. 

 Precificação de carbono – Termo “guarda chuva” que inclui uma grande variedade de programas que dão um valor monetário a unidades de poluição. Esses programas incluem cap and trade (limitar e comercializar), compensações de carbono, REDD+, soluções baseadas na natureza, captura de carbono, taxa de carbono e dividendo, baseline and credit (referência e crédito), baseline and offset (referência e compensação) etc. 

 Reducionismo do carbono – A prática de examinar, explicar e simplificar uma questão complexa como a mudança climática focando somente nas emissões globais de gases do efeito estufa (ou dióxido de carbono), a ponto de minimizar, obscurecer e distorcer a habilidade de entender e enfrentar efetivamente esta crise ecológica e seus impulsionadores sistêmicos. 

 Imposto sobre o carbono – Taxa imposta a poluidores por emissões por eles produzidas. Importa ressaltar que impostos sobre o carbono não mantém combustíveis fósseis no chão. Taxa de carbono e dividendo é a mesma coisa que imposto sobre o carbono, mas seus proponentes prometem que a receita será paga às comunidades locais, diretamente ou por meio de “benefícios” governamentais. 

 Cap and trade (Limitar e comercializar) – Legislação que estabelece um limite ou “tampa” (cap, em inglês) a emissões em sua jurisdição, ao mesmo tempo permitindo que empresas economizem dinheiro comerciando cortes de emissões entre elas (usando alocações/permissões) onde quer que possam ser feitos com menos custo. Todos os programas de cap and trade também incluem compensações de carbono. 

 Justiça climática – Justiça climática foca nas causas profundas da crise do clima por meio da lente interseccional do racismo, classismo, misoginia e dano ambiental. Agentes organizadores de justiça climática servem comunidades nas linhas de frente da mudança climática, trabalhando para criar soluções holísticas e estratégias para enfrentar as raízes do problema e assegurar o direito de todas as pessoas a viver, aprender, trabalhar, brincar e orar em ambientes salubres e limpos. 

 Operações Concentradas de Alimentação Animal (CAFOs) – Áreas onde gado é criado confinado dentro de estruturas superlotadas em condições desumanas. CAFOs estão em expansão desde a década de 1990, impactando o tratamento justo de animais, endividando agricultores, violando leis concorrenciais e leis que protegem as águas e o ar. 

 Descolonização – Processo de desmantelamento do colonialismo, com as metas de “autogovernança” e “autodeterminação”, geralmente envolvendo desfazer a cultura, visão de mundo e práticas econômicas eurocêntricas, e valorizar práticas baseadas no Saber Tradicional Indígena. 

 Urânio empobrecido – Subproduto do enriquecimento de urânio. É chamado de “empobrecido” porque tem uma concentração mais baixa de urânio-235, mas ainda assim é radioativo. 

 Captura direta do ar (DAC) – A DAC é uma técnica em grande medida teórica para retirar dióxido de carbono da atmosfera, usando meios químicos e mecânicos. 

 Doutrina do Descobrimento – A Doutrina do Descobrimento é um princípio do direito internacional do século 15, que estabeleceu uma justificação espiritual, política e jurídica para a colonização européia, a tomada de terras e a violência contra os Povos Indígenas por parte dos europeus Cristãos. A doutrina ainda é usada para invalidar a soberania Indígena e o direito a tratados em favor dos governos coloniais/imperiais modernos. 

 Democracia energética – Abordagem para construir uma sustentabilidade energética que busque transferir a propriedade e governança dos recursos energéticos do establishment energético para o público e as comunidades, empoderando o povo trabalhador, as comunidades de baixa renda e não-brancas para controlar e se beneficiar de seus sistemas energéticos. 

 Recuperação Avançada de Petróleo (RAP) – A captura e armazenamento de carbono (CAC) foi desenvolvida há mais de 40 anos para uso em RAP, prática das petroleiras de bombear dióxido de carbono em poços velhos, quase exauridos, para mantê-los produzindo. Nos Estados Unidos, empresas recebem benefícios fiscais e subsídios pesados por desenvolver infraestrutura de RAP e usar dióxido de carbono para extração com RAP. 

 Soberania alimentar – Direito de todos os povos de compartilhar alimentos saudáveis e culturalmente apropriados, produzidos com métodos ecologicamente corretos e sustentáveis, e de definir seus próprios sistemas alimentares e agrícolas. Ela coloca o conhecimento, aspirações e necessidades de quem caça, pesca, coleta, produz e consome alimentos no âmago dos sistemas e políticas alimentares, em vez das demandas de mercados e empresas de grande porte.  

 Consentimento Livre, Prévio e Informado (CLPI): Consagrado na Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas (DNUDPI), o CLPI almeja estabelecer a participação de baixo para cima, transparência e consentimento de uma população Indígena antes do começo do desenvolvimento ou uso de recursos dentro do território de uma população Indígena. 

 Célula a combustível – Dispositivo usado para produzir eletricidade a partir do hidrogênio. Ela usa um catalisador para acelerar a reação química entre o hidrogênio e o oxigênio, produzindo eletricidade, calor e água. 

Geoengenharia – Conjunto de tecnologias propostas para intervir deliberadamente e alterar sistemas terrestres em mega-escala. Trata-se de uma tentativa potencialmente catastrófica de manipular o clima, num esforço para desfazer alguns dos efeitos da mudança climática. 

 Maquiagem verde – Inclui todas tentativas de mega-empresas poluidoras e outras entidades de usar mudanças cosméticas ou relações públicas para acobertar os danos causados por suas operações e parecer ser ambientalmente responsáveis. 

 Fraturamento hidráulico ou fracking – Técnica em que uma mistura tóxica de água, areia e produtos químicos é bombeada sob pressão para dentro do solo para extrair petróleo e gás. 

 Energia hidrelétrica – Eletricidade gerada usando fluxos de água. Mecanismos para gerar energia hidrelétrica envolvem construir barragens e outros meios de alterar corpos de água. Tais métodos perturbam sistemas ecológicos, prejudicam e deslocam comunidades de suas terras e resultam em grandes emissões de gases do efeito estufa. 

 Hidrogênio – O hidrogênio está cada vez mais sendo promovido como fonte de energia limpa. Contudo, a maior parte do hidrogênio é produzida usando gás natural ou outras fontes sujas de energia. Só pode ser usado para estocagem de energia e requer grandes quantidades de energia para produzir.  

 Saber Tradicional Indígena – Acúmulo de conhecimentos, crenças, tradições e práticas mantidas por Povos Indígenas e desenvolvidas por meio de histórias de aprendizado sobre como viver em harmonia, equilíbrio e reciprocidade com a Terra e os ambientes locais. 

 Transição justa – Arcabouço de princípios, estratégias e práticas que afastam a sociedade de economias poluidoras e extrativas, aproximando-a de economias locais, salubres, de cuidados e partilha. A transição justa centra a liderança das comunidades e trabalhadores da linha de frente, trabalhando juntos para vislumbrar, organizar e construir essas novas economias alinhadas com os ecossistemas locais e as necessidades dos mais prejudicados. 

 Açambarcamento de terras – Processo por meio do qual grandes áreas de terra são tomadas e usadas para commodities de exportação, exacerbando conflitos por direitos à terra, a desigualdade e a escassez de alimentos, especialmente no Sul global. 

 Gás de Aterro para Energia (LFGTE) – Aterros sanitários produzem metano e dióxido de carbono, mais uma variedade de outras emissões tóxicas que são queimadas para produzir calor ou eletricidade. 

 Direitos jurídicos para os rios – Proteções legais dadas a rios como parte do movimento global Direitos da Natureza, que reconhece rios como entidades vivas merecedoras de direitos. Tais esforços visam proteger os rios e as comunidades biológicas e humanas que dependem deles de ameaças como o desenvolvimento hidrelétrico. 

 Gás natural liquefeito (GNL) – Gás natural comprimido, tornando-se um líquido altamente volátil, para facilitar seu transporte. 

 Acampamentos de homens – A indústria de combustíveis fósseis contrata predominantemente homens que vão de um local de trabalho para outro, morando por perto nos assim chamados acampamentos de homens. Muitos destes ficam perto de terras Indígenas, onde altas taxas de tráfico, violência e assassinatos de mulheres Indígenas continuam sem combate por parte das autoridades policiais locais e federais. 

 Derretimento – Desastre envolvendo a perda do refrigerante do combustível num reator de uma usina de energia nuclear. As barras de combustível aquecem além de seu ponto de fusão, o que pode causar explosões devido à produção de hidrogênio, assim como a liberação de radiação no ar. 

 Metil mercúrio – Forma lipossolúvel de mercúrio que se bioacumula (sobe a cadeia alimentar, aumentado de concentração na carne e produtos lácteos que as pessoas comem, e no leite humano). É formado quando o mercúrio está em ambientes úmidos onde micróbios o convertem a essa forma, tais como aterros sanitários e terras inundadas pela água de represas hidrelétricas. 

 Soluções baseadas na natureza – Expressão da moda, mais ou menos nova, para dizer compensações de carbono terrestres, incluindo agricultura, solos, gás de fazendas industriais, árvores etc. 

 Neoliberalismo – Ampla gama de políticas de reformas lideradas pelo mercado, como a eliminação de controles sobre preços, desregulamentação de mercados, rebaixamento de barreiras comerciais, promoção de direitos de propriedade intelectual relacionados ao comércio, e redução da influência estatal na economia através de privatizações e austeridade, principalmente. 

 Meta de emissão líquida zero – Líquido zero é um termo enganoso que usa programas de compensação para permitir que uma empresa, governo ou outra entidade subtraia suas emissões totais para ficar igual a “zero.” Em outras palavras: Total de Emissões – Compensação = Emissão Líquida Zero. Empresas podem alegar que têm emissão líquida zero enquanto continuam poluindo. 

 Cadeia do urânio/combustível nuclear – Sequência de etapas envolvidas na produção de combustível nuclear, e o armazenamento, manejo e descarte de combustível irradiado e outros resíduos radioativos. 

 Fertilização oceânica com ferro – Lançar partículas de ferro em grandes extensões de oceano para aumentar o florescimento de plâncton, o que supostamente faz aumentar a quantidade de CO2 que o oceano consegue absorver. 

 Princípio da precaução – Abordagem que afirma que se uma inovação, nova tecnologia ou prática tem o potencial de causar grave dano ao público ou ao meio ambiente, deve haver uma ação preventiva que impeça o dano antes que seja aferido com certeza o nível de risco social e científico. 

 Lixo radioativo – Tipo de resíduo gerado ao longo da cadeia do combustível nuclear e pela produção de armas nucleares. Esse lixo pode consistir de dezenas de diferentes radioisótopos, com vários impactos biológicos sobre diferentes órgãos, tecidos e funções biológicas. 

 Combustível derivado de resíduos (CDR) – Variação da incineração que envolve retirar o vidro e metais que não queimam e transformar os materiais combustíveis (papel e plásticos, principalmente) em pellets que são ou queimados num incinerador normal, ou vendidos como combustível para fornos de cimento ou usinas termelétricas a carvão mineral. 

 Economia regenerativa – Sistema econômico baseado em restauração ecológica, resiliência comunitária, equidade social e processos participativos. Ele requer a relocalização e democratização de como produzimos, consumimos e compartilhamos, e assegura que todos tenham acesso a alimentos saudáveis, energia limpa, ar e água limpos, bons empregos e ambientes salubres para se viver. 

 Créditos de Energia Renovável (RECs) – Certificados comercializáveis correspondentes aos atributos ambientais de energia produzida a partir de fontes renováveis. Criados para cobrir o prêmio (custo extra) de gerar energia renovável (quando a energia renovável era mais cara), RECs podem ser comprados por indivíduos e instituições que queiram alegar que usam energia limpa. Mas a maior parte é comprada por concessionárias de eletricidade para atingir metas estaduais de energia renovável, frequentemente conhecidas como Padrões de Portfólio Renováveis (Renewable Portfolio Standards). 

Gestão de radiação solar (SRM) – Técnicas que tentam refletir a luz solar de volta para o espaço de modo a mascarar temporariamente os efeitos da mudança climática. Propostas incluem: instalar espelhos na órbita da Terra; injetar sulfatos na estratosfera; e modificar nuvens, plantas ou gelo para fazê-los refletir mais a luz do sol. 

 Injeção de aerossol estratosférico (SAI) – Atirar partículas na estratosfera para imitar os efeitos de uma erupção vulcânica, assim bloqueando parte da radiação solar. O objetivo seria mascarar temporariamente os efeitos da mudança climática ao tentar baixar a temperatura terrestre. 

 Enriquecimento de urânio – Processo com uso intenso de energia utilizado para aumentar a concentração de urânio-235 (U-235) para ser usado em combustível nuclear ou armas nucleares. O U-235 perfaz apenas 0,7% do urânio na maior parte dos depósitos do minério. Para servir de combustível em reatores, sua concentração costuma precisar ser na faixa 3,5%-4,5%. Para uso em armas nucleares, o U-235 precisa ser enriquecido a 90%. 

 Compensações voluntárias – Créditos de compensação não sujeitos a regulamentação governamental que qualquer poluidor ou indivíduo pode comprar para supostamente compensar suas emissões de gases do efeito estufa. 

 De lixo a energia – Termo de relações públicas criado por grupos de lobby pró-indústria da incineração para promover incineradores de lixo que produzem eletricidade. 

 Lixo zero – A conservação de todos os recursos por meio da produção, consumo, re-uso e recuperação responsáveis de produtos, embalagens e materiais, sem queima e sem descarte na terra, água ou ar que possam ameaçar o meio ambiente ou a saúde humana.